5 Razões para Vale Tudo Estar Fora do Horário das 18 e 19h

Vale Tudo novela tem gerado debates intensos sobre seu posicionamento no horário das 18 e 19h. Com um histórico de remakes controversos na Globo, a atual produção enfrenta críticas por personagens superficiais e enredos que parecem não se encaixar no horário. Além disso, a influência das redes sociais e o público jovem trazem uma nova dinâmica à trama, que tem dividido opiniões. Vamos explorar os principais pontos que explicam essa situação e o que isso significa para o futuro da novela.

Histórico dos remakes na Globo e o desafio do horário

A Rede Globo tem uma longa tradição de remakes que marcam sua história, especialmente em datas comemorativas importantes, como seus aniversários. Em 1995, por exemplo, a emissora celebrou seus 30 anos com o remake da clássica novela Irmãos Coragem, originalmente escrita por Janete Clair e considerada um marco na teledramaturgia brasileira. No entanto, esse remake enfrentou sérios desafios, principalmente por ter sido deslocado para o horário das 18h, quando a trama original era destinada ao horário nobre das 21h.

Esse deslocamento de horário não foi apenas uma mudança de tempo na grade, mas também uma alteração que impactou profundamente a linguagem e o desenvolvimento da novela. A redução drástica dos capítulos — de 328 para apenas 155 — forçou uma condensação que prejudicou a construção dos personagens e a fluidez da narrativa. A tentativa da Globo de criar um “filão de remakes para horários leves” acabou se mostrando um equívoco, pois não respeitou as características originais das obras.

Desafios Atuais com Vale Tudo

Agora, 30 anos depois, a emissora enfrenta um dilema semelhante com Vale Tudo. A novela não está sendo exibida nem no horário das 18h nem das 19h, e a cada semana, parece que a trama perde a intensidade e a densidade que marcaram a versão original. Essa mudança na linguagem, para se adequar a um horário que não combina com o tom da história, tem gerado críticas e um sentimento de que a novela está sendo diluída, afastando parte do público que esperava uma narrativa mais robusta e envolvente.

Portanto, o histórico dos remakes na Globo mostra que o desafio do horário é mais do que uma simples questão de programação: é uma questão de respeitar a essência das obras e entender o público para o qual elas se destinam. Sem isso, o risco é transformar clássicos em versões superficiais, perdendo a magia que os tornou inesquecíveis.

A construção dos personagens em Vale Tudo

A construção dos personagens em Vale Tudo tem sido um ponto bastante controverso e que divide opiniões. A protagonista Maria de Fátima, interpretada por Bella Campos, é um exemplo claro dessa complexidade. Apesar do talento da atriz, a personagem foi moldada de forma mais superficial, com nuances menos profundas do que a versão original. A Fátima atual oscila entre momentos de vilania caricata e cenas que parecem saídas de um humor de esquetes, o que acaba tirando a seriedade e a densidade que o papel exigiria.

Outro personagem que sofre com essa construção é Afonso Roitman, o “mocinho” da trama, que na versão atual aparece como um jovem riquinho hipócrita e sem características redentoras, tornando difícil para o público criar empatia ou torcer por ele. Essa falta de profundidade também atinge Solange, que representa o politicamente correto das redes sociais, mas acaba soando como um estereótipo sem vida.

Por outro lado, Marco Aurélio, vivido por Alexandre Nero, ganhou uma nova dimensão, mas não necessariamente para melhor.

Antigamente, ele era um homem duro e complexo, com traços de carisma que faziam o público se envolver com sua história. Hoje, ele aparece mais humanizado, quase amolecido, o que para muitos fãs da novela original tira a força do personagem e o torna menos interessante.

Essa humanização dos vilões, uma tendência que veio do cinema e da televisão das últimas décadas, tenta mostrar suas origens e motivações para que o público possa compreendê-los melhor. Porém, em Vale Tudo, essa abordagem tem sido criticada por diluir o impacto dramático e transformar antagonistas fortes em figuras quase simpáticas, o que pode enfraquecer a tensão da trama.

Em resumo, a construção dos personagens em Vale Tudo reflete um equilíbrio delicado — ou melhor, um desequilíbrio — entre manter a essência dos originais e adaptar a narrativa para um público moderno, o que nem sempre tem funcionado bem, deixando a desejar em profundidade e coerência.

A influência das redes sociais e público jovem

A influência das redes sociais e do público jovem em Vale Tudo é um fenômeno que não pode ser ignorado. Maria de Fátima, por exemplo, se tornou uma verdadeira estrela nas redes, especialmente entre os mais jovens, o que reflete uma mudança significativa na forma como as novelas se conectam com seu público. Essa conexão digital traz uma dinâmica diferente para a trama, onde os personagens ganham uma vida paralela nas redes, influenciando a percepção e o engajamento dos espectadores.

No entanto, essa influência também traz desafios. A adaptação da personagem Fátima para um perfil mais próximo de uma “influencer” digital, com cenas que flertam com o humor de situação e momentos mais leves, pode ter contribuído para a diluição da complexidade original da personagem. O público jovem, acostumado ao ritmo rápido e ao conteúdo direto das redes sociais, parece responder bem a essa versão mais acessível e divertida.

Além disso, o roteiro da novela parece buscar um equilíbrio entre manter a essência dramática da história e atender às expectativas desse público mais conectado e exigente. Essa tentativa nem sempre é bem-sucedida, resultando em uma mistura que pode parecer desconexa para quem acompanha a trama tradicionalmente.

Por fim, as redes sociais também funcionam como um termômetro instantâneo das reações do público, onde críticas e elogios se espalham rapidamente, influenciando até mesmo os rumos da novela. Essa interação direta entre espectadores e produção é uma característica moderna que redefine o papel das novelas na cultura pop, mas que exige cuidado para não comprometer a qualidade da narrativa.

Problemas de roteiro e enredos superficiais

Os problemas de roteiro em Vale Tudo têm sido um dos principais pontos de crítica entre os espectadores e especialistas. Muitas tramas secundárias parecem esquecidas, com desenvolvimentos apressados ou até mesmo elipses que deixam o público perdido. Por exemplo, personagens como Tiago e André, que eram figuras constantes na versão original, praticamente desapareceram, e seus relacionamentos não foram explorados com a profundidade necessária.

Além disso, algumas cenas importantes, como a acusação de roubo envolvendo Gilda, foram resolvidas em poucos segundos, sem o devido peso dramático, o que frustra quem espera uma narrativa mais consistente e envolvente. A personagem Cecília também sofre com essa superficialidade, aparecendo em situações que não possuem um contexto claro, como sua atuação como agente de segurança, que não foi devidamente explicada ou desenvolvida.

Outro problema é o relacionamento frio e sem química entre Cecília e Laís, que dificulta a empatia do público com o casal. Essa falta de conexão emocional é um reflexo do roteiro que não investe tempo suficiente para construir esses laços de forma natural e convincente.

De modo geral, a novela sofre com uma esterilização da narrativa, onde as maldades e ousadias que marcaram os horários “leves” parecem exageradas, enquanto a tentativa de humanizar os personagens acaba deixando tudo raso e pouco impactante. Entre momentos de comédia involuntária e a muleta da “humanização”, Vale Tudo parece cada vez mais um produto diluído, que não consegue capturar a intensidade e a complexidade que o público espera.

Conclusão

Vale Tudo enfrenta um desafio complexo ao tentar equilibrar a tradição dos remakes da Globo com as demandas do público moderno, especialmente o jovem conectado às redes sociais. A mudança de horário e a adaptação da linguagem parecem ter diluído a força da trama original, enquanto a construção dos personagens, embora tente humanizar vilões e aproximar heróis do cotidiano, acaba perdendo profundidade e coerência.

Os problemas de roteiro e os enredos superficiais reforçam a sensação de que a novela está afastando parte do seu público, que espera uma narrativa mais robusta e envolvente. Ainda assim, a influência das redes sociais mostra que há um novo caminho para as novelas, que precisam se reinventar sem perder a essência que as tornou inesquecíveis.

No fim das contas, Vale Tudo é um exemplo claro de como o sucesso de uma novela depende não apenas da história que ela conta, mas de como essa história é adaptada e apresentada para diferentes públicos e horários. O desafio está lançado, e só o tempo dirá se a novela conseguirá encontrar seu equilíbrio e reconquistar o público.