5 Motivos que Explicam o Tokenismo em Vale Tudo
Tokenismo em Vale Tudo: entenda os erros e as consequências do remake na representatividade.

O tokenismo em Vale Tudo é um tema que vem gerando muita discussão. O remake da novela, que prometia trazer debates relevantes, acabou revelando um uso superficial e oportunista da representatividade. Desde a inserção rápida de personagens LGBTQIA+ até enredos que pouco exploram a complexidade dos temas, a trama escorrega na profundidade e na autenticidade. Neste artigo, vamos desvendar as raízes do tokenismo, sua presença na cultura pop e como Vale Tudo exemplifica esse problema, afetando o desenvolvimento dos personagens e a qualidade geral da narrativa.
Origem e significado do tokenismo
O tokenismo tem raízes profundas na história das desigualdades sociais, especialmente em relação à representatividade de grupos marginalizados. A palavra token, que pode ser traduzida como “símbolo”, foi usada pela primeira vez por Martin Luther King Jr na década de 60 para descrever uma prática comum: a contratação de um ou dois funcionários pretos em empresas, apenas para criar a ilusão de diversidade e inclusão. Essa estratégia, embora parecesse um avanço, na verdade mascarava a exclusão real e mantinha as estruturas de poder intactas.
Com o tempo, o termo tokenismo se expandiu para além do contexto racial e passou a designar qualquer situação em que um grupo ou indivíduo é incluído apenas para cumprir uma cota ou dar aparência de representatividade, sem que haja um interesse genuíno em seu desenvolvimento ou participação ativa. Na cultura pop, por exemplo, é comum vermos personagens que existem só para “constar”, sem enredos relevantes ou profundidade, o que acaba reforçando estereótipos e perpetuando desigualdades.
Entender essa origem é fundamental para reconhecer as consequências do tokenismo e a importância de buscar representatividade verdadeira, que vá além do superficial e promova inclusão real e significativa.
Tokenismo na cultura pop e novelas brasileiras
O tokenismo na cultura pop é um fenômeno constante e visível, especialmente nas novelas brasileiras. Muitas vezes, personagens de grupos minoritários são inseridos apenas para cumprir uma cota, sem que suas histórias sejam exploradas de forma profunda ou autêntica. Um exemplo clássico é o trabalho do autor Manoel Carlos, que, apesar de seu talento narrativo, frequentemente colocou personagens pretos em papéis limitados e estereotipados, como empregadas domésticas ou figuras secundárias sem vida própria.
Essa prática cria uma falsa sensação de diversidade, onde a presença do personagem serve mais para “constar” do que para representar de fato. Além disso, em novelas e séries, é comum ver um único personagem negro ou uma única mulher em grupos maiores, o que reforça a ideia de tokenismo. Esses personagens raramente têm enredos próprios ou são desenvolvidos além do básico, o que acaba prejudicando a representatividade real.
O tokenismo nas novelas brasileiras reflete uma dificuldade maior da indústria em abraçar a diversidade de forma genuína, resultando em histórias que não conseguem capturar a riqueza e a complexidade das experiências desses grupos. Isso não só empobrece a narrativa, mas também limita o impacto social que a cultura pop poderia ter ao promover inclusão verdadeira.
Análise crítica do remake de Vale Tudo
O remake de Vale Tudo tem sido alvo de críticas severas por sua abordagem rasa e oportunista em temas sociais importantes. Ao tentar inserir pautas como a adoção por casais LGBTQIA+ e a discussão sobre assexualidade, a novela acaba se mantendo na superfície, sem aprofundar as narrativas ou dar a esses assuntos o espaço que merecem. Essa tentativa de parecer “consciente” soa mais como uma estratégia para atrair audiência do que um compromisso real com a representatividade.
Um exemplo claro dessa superficialidade é a família de Consuelo, cujos personagens não possuem relevância significativa na trama, diferente do original. Além disso, enredos promissores foram descartados, e a direção da novela tem sido criticada por ser burocrática e pouco inspirada, o que contribui para o enfraquecimento da história.
Outro ponto que chama atenção é o uso do chamado “plot dos bebês Reborn”, que parece mais uma muleta para gerar curiosidade do que um elemento orgânico da trama. A sequência envolvendo a venda desses bonecos foi mal executada, deixando uma impressão de descuido e falta de respeito com o público que conhece o original.
Em resumo, o remake de Vale Tudo exemplifica os perigos do tokenismo na teledramaturgia, onde a inclusão de temas e personagens diversos acontece de forma superficial e sem compromisso real, prejudicando a qualidade da narrativa e a conexão com o público.
Personagens e enredos superficiais em Vale Tudo
Em Vale Tudo, muitos personagens e seus enredos parecem ter sido reduzidos a meras aparições superficiais, sem o desenvolvimento necessário para criar empatia ou interesse real no público. A família de Consuelo, por exemplo, é um claro exemplo dessa falta de profundidade: nenhum dos seus membros possui relevância significativa na trama, e os potenciais enredos que tinham no original foram simplesmente descartados.
Além disso, personagens que poderiam agregar à narrativa, como Bartolomeu e Jarbas, foram praticamente apagados, aparecendo em poucas cenas e sem impacto. Essa redução drástica enfraquece a complexidade da história e deixa a sensação de desperdício, já que versões anteriores desses personagens tinham muito mais peso.
Outro ponto problemático é o tratamento dado a temas importantes, como a assexualidade de Poliana e o burnout de Renato, que são abordados de forma rasa e pouco convincente. Esses enredos parecem mais uma tentativa de “marcar presença” do que um esforço real para explorar questões relevantes com profundidade e sensibilidade.
Essa superficialidade na construção dos personagens e enredos reforça a crítica de que o remake opta pelo tokenismo, usando a diversidade e temas sociais apenas para constar, sem investir na complexidade e autenticidade que fariam a trama realmente ressoar com o público.
Impacto do tokenismo na narrativa e audiência
O tokenismo tem um impacto profundo tanto na narrativa quanto na recepção do público. Quando personagens e temas são inseridos apenas para cumprir uma cota ou parecer “conscientes”, a trama perde autenticidade e profundidade, o que prejudica a conexão emocional com os espectadores.
Em novelas como o remake de Vale Tudo, essa abordagem superficial gera uma sensação de artificialidade, fazendo com que o público perceba a falta de compromisso real com a representatividade. Isso pode levar à rejeição da trama, queda na audiência e críticas negativas nas redes sociais.
Além disso, o tokenismo reforça estereótipos e limita a diversidade a papéis secundários, o que empobrece a riqueza cultural e social da narrativa. A falta de desenvolvimento consistente dos personagens minoritários impede que suas histórias inspirem e representem verdadeiramente seus grupos.
Por fim, o tokenismo não só afeta a qualidade artística da obra, mas também perde a oportunidade de promover debates relevantes e transformar a percepção social, deixando o público com a impressão de que a inclusão é apenas um artifício vazio.
Conclusão
O tokenismo, especialmente visível em produções como o remake de Vale Tudo, revela como a inclusão superficial pode minar a qualidade das narrativas e afastar o público. Quando personagens e temas são tratados de forma rasa, sem profundidade ou compromisso real, a trama perde seu impacto e autenticidade.
Além de prejudicar a representatividade, o tokenismo reforça estereótipos e limita a diversidade a meros símbolos, o que empobrece tanto a cultura pop quanto as discussões sociais que poderiam ser fomentadas. Para que a inclusão seja verdadeira e significativa, é preciso ir além do “cumprir cota” e investir em histórias que reflitam a complexidade e riqueza dos grupos representados.
Assim, o desafio para a teledramaturgia brasileira é abraçar a diversidade com sinceridade, oferecendo personagens e enredos que dialoguem genuinamente com o público, promovendo não só entretenimento, mas também reflexão e transformação social.
gustavo.santos
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